MUNDURUKU
Povo que ganhou fama por suas enormes habilidades de guerra, os Munduruku, que se autodenominam wuyjugu, são conhecidos também como cortadores de cabeça. Trata-se de uma tradição munduruku coletar as cabeças de seus inimigos e, depois de passarem por um tratamento especial, oferece-las para a mãe da mata em ritual xamânico, a fim de obter fartura na caça, abundância nas roças e proteção dos espíritos da floresta contra as doenças que atacam sua gente. Os Munduruku partiam em verdadeiras expedições de guerra pela Amazônia travando batalhas épicas contra os povos que iam encontrando pelo caminho e tais expedições podiam durar até mesmo anos. Sua organização social, especialmente antes da colonização, é patrilinear e matrilocal, ou seja, é herdado o clã dos pais e a uka (casa) das mães; além disso, pode-se dizer que durante muito tempo, como contam as narrativas tradicionais, o centro nervoso da sociedade munduruku foi a casa dos homens, onde se tratava da principal atividade do povo: a guerra. É certo que os colonizadores se aproveitaram da influência e da imposição guerreira desse povo para alcançar seu objetivo de dominar outros povos. No entanto, os Munduruku resistiram por décadas as investidas coloniais, tendo sitiado por vezes a cidade de Santarém, que servia de base dos portugueses, e até mesmo tendo chegado as proximidades de Belém. Por onde passavam a simples menção de seu nome causava medo entre os pariwat (não indígenas) que já não podiam ignorar os feitos desses guerreiros. Não conseguindo derrota-los em batalha , os colonizadores mudaram sua estratégia de aproximação e passaram a deixar presentes, como facões e roupas, nas margens de rio e igarapés próximos as comunidades munduruku. Esse povo ocupou uma extensa região que ia da bacia do Tapajós até o Rio Madeira, alcançando ao norte até proximidades do Rio Amazonas e ao sul até às proximidades do Xingu. Os Munduruku ocupam até hoje a região conhecida como os campos do Tapajós, onde estão as aldeias mais tradicionais, mas também se espalharam por toda extensão deste rio, ocupando o alto, médio e baixo Tapajós, até Santarém; além do sudoeste do Pará estão também no Amazonas e Mato Grosso. Toda essa região chegou a ser conhecida como Mundurukânia devido ao domínio cultural munduruku. Sua vocação guerreira não desapareceu com o passar dos anos e se o tempo das expedições guerreiras para caçar cabeças já passou, hoje suas expedições os levam onde a luta acontece: como nas ocupações do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no incêndio da delegacia de Jacareacanga-PA e nas viagens até Brasília. O objetivo de tais ações? Protestar contra as violências sofridas, garantir respeito ao povo, demarcando suas terras ainda não demarcadas, expulsando invasores das terras já demarcadas e fazendo sua voz ser ouvida contra os grandes empreendimentos hidrelétricos e de mineração que o governo, em parceria com a iniciativa privada, vem articulando para o Rio Tapajós e que, uma vez realizados, trarão danos irreversíveis a todo ecossistema da região, além das comunidades indígenas e ribeirinhas. Hoje às mulheres tomam sua vez enquanto porta vozes e lideranças da luta munduruku e assim, estas bravas guerreiras junto aos guerreiros, anciãos e crianças, continuam a defender o legado de vida deixada pelo Karosakaybo (o guerreiro criador do mundo, segundo a cosmologia munduruku).